quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Opinião Transporte Seguro: Por que tanto preconceito?


Algumas categorias profissionais, por conta das atividades que desenvolvem, estão submetidas a uma variada gama de preconceitos. Podemos fazer uma rápida lista, sem muita pesquisa, sobre profissões “tabu”: lixeiro, gari, coveiro, catador de materiais recicláveis, pedreiro, etc. Normalmente, duas questões se misturam para dar corpo à discriminação:
  • Primeiro, o fato do trabalho em questão ser visto como pouco importante. Não que essas atividades sejam, de fato, desimportantes. Imagine sua cidade sem lixeiros, coberta por baratas, ratos e urubus. Desagradável, não? Ou pense em um arquiteto com um projeto brilhante mas sem ninguém que coloque a argamassa e os tijolos necessários ao seu belo edifício. Fica fácil de perceber, assim, como o pedreiro é importante. No entanto, nossa sociedade insiste em vincular importância e ganho financeiro. Desse modo, por mais fundamental que seja seu trabalho, as pessoas não irão admirá-lo se você ganhar pouco. Por outro lado, você pode ser um vendedor de armas nucleares – a pior coisa que existe – e seu grande salário o fará respeitável;
  • Segundo, temos dificuldades em respeitar profissões que envolvam trabalho braçal, contato com materiais “impuros” (como o lixo) e um menor nível de qualificação profissional. Valorizamos muito mais o intelecto e as atividades vistas como “limpas” – o engravatado atrás de uma bela mesa de escritório. Não levamos em conta que, ainda que todos se formem na universidade, o lixo deverá ser recolhido e os nossos falecidos, enterrados/cremados. Além disso, por mais que os robôs se multipliquem, ainda será necessária uma mão humana para assentar um tijolo ou passar reboco em uma parede.
Mas por que fazer essa discussão aqui no Transporte Seguro? Simples: porque, em nossa opinião, uma dessas categorias profissionais vítimas de preconceito é a dos caminhoneiros/carreteiros/motoristas. Vistos como “folgados” ou “grosseiros”, sempre aparecem em comentários de gosto duvidoso. Quando alguém faz um gracejo indelicado a uma mulher, costumamos ouvir: “nossa, isso é cantada de pedreiro/borracheiro/caminhoneiro”.
O que nossa sociedade não leva em consideração, no entanto, são as dificuldades impostas a esses trabalhadores, que realizam uma atividade absolutamente fundamental ao nosso país. Normalmente, ninguém presta atenção aos seguintes fatos:
  • Que as jornadas de trabalho dos caminhoneiros são longas, cansativas e mal pagas. Nossas estradas mal cuidadas, o risco de assaltos e a falta de bons pontos de apoio só pioram essa situação;
  • Que muitos caminhoneiros levam suas famílias consigo e que o caminhão pode ser, muitas vezes, um lar;
  • Que um caminhão é um equipamento muito complexo e de alto risco – ainda mais nesses tempos de bitrens, rodotrens e bitrenzões. Desse modo, antes de xingar o motorista por uma suposta “fechada” e dizer que ele é folgado, pergunte-se: “considerando que ele está guiando um monstro de 50 toneladas, será que ele fez essa manobra para me prejudicar ou porque não tinha como fazer diferente?”;
  • Que a barba por fazer, o mau humor e o ar de cansaço, na maior parte das vezes, não são uma opção. Tente dirigir por 10 horas seguidas e ficar com um aspecto de quem acabou de sair do banho… Impossível, certo?
  • Que os caminhoneiros podem até ser machistas. Mas você já parou para pensar no seu próprio machismo? Afinal, quase todo motorista, em seu carro, já olhou com desdém e preconceito para uma caminhoneira. Ou por achar que ela não sabe dirigir ou por achar que o simples fato de dirigir um caminhão a torna pouco atraente.
Concluindo este texto, gostaríamos de perguntar: por que tanto preconceito? Precisa ser assim? Não seria muito melhor que respeitássemos todos os profissionais que dedicam suas vidas a realizar um bom trabalho, que é útil à sociedade? Portanto, quando estiver em uma estrada e vir um motorista em seu caminhão, não deixe de considerar que ele é um dos responsáveis por manter a economia de seu país em bom funcionamento.

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